Multimodalidade e as estruturas desgarradas em anúncios publicitários: uma estratégia para favorecer a sedução

 

Quando me olho no espelho meme, por Elis Costa – Canva

Você certamente aprendeu, ainda nas aulas de redação da escola, que não se deve deixar frases soltas no texto. Por exemplo, usar uma oração com verbo no gerúndio ou infinitivo isolada, alguma coisa assim: “Construindo casas durante o verão. A melhor época para trabalhar”. Sua professora deve ter reclamado que havia aí um problema de pontuação, no mínimo. Mas, na verdade, essas estruturas soltas em um texto são bem comuns em memes na internet e em textos publicitários, e tem uma função.

O artigo de Rosane Cassia Santos e Campos, professora da Universidade Federal de Minas Gerais, publicado no dossiê “Articulação de orações: uma homenagem à Beatriz Decat” (v.13, n.1), trata exatamente desse tema. Denominadas estruturas desgarradas por Decat, o trabalho as investiga em cinco anúncios publicitários, produzidos em língua portuguesa e veiculados em mídia de circulação nacional.

A autora analisa anúncios como os representados na lateral, em que se usam SNs nominais e estruturas oracionais que caracterizariam a mulher, chamando a atenção para a valorização do provável consumidor e conclui que as estruturas desgarradas se associam a elementos da multimodalidade com a função da destacar informações relevantes para o consumo da ideia ou produto anunciado.

a multimodalidade, associada ao desgarramento, tem muito a contribuir para que as magias de sedução carregadas pelos anúncios sejam ainda mais evidenciadas, trazendo à baila o leque de opções de que dispõe o produtor do anúncio em sua missão de seduzir, de encantar (Campos, 2023, p.95).

Da próxima vez que você usar uma estrutura desgarrada no seu texto, pergunte-se qual o efeito disso. Se a resposta não for “incompreensão”, “vagueza”, “confusão” ou algo parecido, há boa chance de ter uma função discursiva de evidência e destaque.