Traços polissêmicos do verbo calcular

Leticia de Almeida Barbosa, Solange de Carvalho Fortilli

Resumo


Este trabalho tem como objetivo discutir aspectos semânticos do verbo calcular que, em contexto prototípico, significa determinar valor ou grandeza numérica por meio de raciocínio matemático. Em situações reais de comunicação, nota-se a existência de empregos diversos para calcular, ora expressando o valor ou a quantidade de algo concreto, ora quantificando algo abstrato ou ainda funcionando como um parêntese ou informação extra relacionada à postura do falante sobre o que é dito. Esse comportamento revela modificações no significado do verbo, que, de predicado que seleciona dois argumentos concretos, vem apresentando reforço nos traços ligados à subjetividade e à intersubjetividade, estando os processos polissêmicos ligados a essa mudança. Como fundamentação teórica, a pesquisa apoiou-se em estudos como os de Sweetser (1990), Heine et al. (1991), Hopper e Traugott (1993), Neves (2000) e Martelotta (2010), que tratam de mudanças semânticas no âmbito da Gramaticalização. Mais especificamente, tomou-se por base Casseb-Galvão (2000) e Fortilli (2015), por tratarem de verbos que passam por alterações semelhantes. Para o levantamento e análise de dados, foram selecionados casos encontrados entre os séculos XIX, XX e XXI no Corpus do Português. Os resultados apontam para uma maior disseminação dos usos do verbo calcular em configuração parentética, o que se justifica pelo processo de abstração de seu significado, pois, quando parentetizado, o verbo deixa de referenciar traços semânticos específicos de um processo mental e evidencia traços de incerteza do falante diante do que está sendo afirmado.


Palavras-chave


Polissemia. Verbos cognitivos. Gramaticalização.

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DOI: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-21159

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