Cláusulas com para e sua multifuncionalidade

Rachel de Carvalho Pinto Escobar Silvestre, Violeta Virginia Rodrigues

Resumo


Pretendemos, neste estudo, descrever o comportamento multifuncional do item para, tradicionalmente classificado como preposição. A tradição gramatical inclui esta preposição dentre os conectores capazes de introduzir orações subordinadas adverbiais finais reduzidas de infinitivo. Mateus et alii (2003) mencionam a possibilidade deste mesmo item funcionar como pronome relativo em determinados contextos, portanto, iniciando uma oração relativa (adjetiva na abordagem tradicional). Menezes (2003), por sua vez, defende a possibilidade de para encabeçar estruturas completivas (substantivas na abordagem tradicional). Os dados analisados foram coletados de roteiros cinematográficos, disponíveis no site www.roteirodecinema.com.br, que se constitui de mais de 380 roteiros de inúmeros filmes nacionais. Seguindo uma orientação funcional-discursiva, objetivamos verificar, por meio da análise dos dados do corpus, se para está funcionando como: i) conjunção integrante em cláusulas completivas; ii) pronome relativo em estruturas relativas e iii) conjunção subordinativa em cláusulas circunstanciais.  O aporte teórico mescla trabalhos de correntes teóricas diversas como os de Kury (1963), Bechara (1982), Thompson (1988), Azeredo (1990), Hopper (1991), Decat (2001, 2011), Poggio (2002), Mateus et alii (2003), Menezes (2003), Cunha & Cintra (2008), Marques (2009) e Rodrigues (2010), só para citar alguns.  Foram analisados 55 longas-metragens e 89 curtas-metragens, dos quais coletamos 3159 dados, contados manualmente. Do total, 1267 dados foram considerados hipotáticos circunstanciais, sendo 11 veiculando conteúdo semântico consecutivo, 6 possibilitando mais de uma leitura e 1250 veiculando conteúdo semântico final. Foram encontradas 1827 cláusulas completivas, 10 cláusulas relativas e 55 desgarradas, veiculando conteúdo semântico final.


Palavras-chave


funcionalismo; multifuncionalidade; para.

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DOI: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321.7.7.2.93-106

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