Transitivização de sumir e desaparecer no português do Brasil: um caso de construcionalização lexical
Resumo
Este trabalho visa à descrição do processo de transitivização dos verbos sumir e desaparecer no português. Tais verbos, a despeito de serem considerados tradicionalmente formas inacusativas – isto é, verbos intransitivos a cujos sujeitos atribui-se um termo de papel paciente –, podem apresentar-se em construções transitivas em nossa sincronia, na medida em que passam a instanciar uma nova construção: [Sagt V.COM OBJafetado]. Defende-se que tal mudança representa um processo de construcionalização lexical, na medida em que tanto o entricheiramento do verbo e da preposição quanto a perda de composicionalidade acarretam uma FORMANOVA-SENTIDONOVO, cujo resultado representa uma nova aquisição para o inventário lexical. Paralelamente, assume-se que esse processo de mudança é cognitivamente motivado pela tendência de o sujeito sintático apresentar uma propriedade de causação, conforme defende Langacker (2008). Como metodologia de pesquisa, procedeu-se à análise quantitativa e qualitativa de dados a partir do século XIV, extraídos de dois diferentes corpora. Observou-se que as construções transitivas de sumir e desaparecer surgem nos registros escritos a partir do século XIX. Durante a análise, separaram-se os contextos de mudança linguística nos parâmetros de Diewald (2006). Constatou-se que as ocorrências da construção transitiva de desaparecer, além de mais frequentes, revelam mais contextos atípicos que as de sumir. Isso mostra que a primeira, além de mais antiga na língua, pode ter promovido a construcionalização da segunda através de um processo analógico. Isto é, uma vez formado um sub-esquema de padrão V.COM na constructicon, “a regra” tornou-se produtiva, admitindo novos elementos e promovendo novas microconstruções.
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