Sob o arrimo do discurso político elitista em charges de resistência: a subjetividade subalternizada

Fernanda Fernandes Pimenta de Almeida Lima, Claudirene Soares de Morais

Resumo


Participar do debate político e construir posicionamentos fundamentados em acontecimentos discursivos é também uma prática de análise da história. Neste sentido, o presente trabalho objetiva analisar, sob o postulado teórico da Análise do Discurso francesa, uma charge que, ao produzir efeitos de humor, traduz um exercício de resistência ao discurso político elitista do até então ministro Paulo Guedes, quando este criticou o fato de as empregadas domésticas estarem indo à Disney. Neste sentido, essa investigação se configura em uma pesquisa empírica, cujo método interpretativo, ao identificar regularidades em enunciados pertencentes a uma formação discursiva político elitista, observa como estas são evidenciadas na contraconduta humorística do gênero charge. Se entre os efeitos que emergem desse discurso político está a subalternização do sujeito, a charge, por outro lado, ajusta-se como um gênero que comunga certas características com a luta anticapitalista, anticolonialista e “antissubalternizadora” da sociedade. Ela insurge, no campo midiático, como prática discursiva que forja respostas não apenas ao sujeito político que legitima seu discurso, mas também à posição enunciativa do sujeito leitor que o questiona.

Palavras-chave


discurso político; elite; charge; letramento.

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