Três versões de “Mutante” e a síntese de Rita Lee

Matheus Henrique Mafra, Carolina Lindenberg Lemos, Vinícius Façanha

Resumo


A partir da hipótese de que o estilo de Rita Lee está marcado por uma tendência a circular entre opostos e atenuar tendências extremas, propomos uma análise comparativa de três versões de “Mutante”: por Rita Lee (1982), Ná Ozzetti (1996) e Daniela Mercury (2001), a fim de mostrar como se configura esse estilo “entre” de Lee, tanto na composição como na interpretação. Iniciamos com a análise do núcleo de identidade da canção (melodia e letra), segundo o modelo desenvolvido por Luiz Tatit, revelando já nesse nível uma tendência à atenuação. Em seguida, procedemos à comparação das versões, com base no parâmetro de andamento, não apenas metronômico, mas sobretudo relativo às estratégias interpretativas que geram o efeito de aceleração ou desaceleração em ambos os planos. Enquanto a versão de Ná Ozzetti é francamente passionalizante e a de Daniela Mercury atualiza os valores da aceleração, a interpretação de Rita Lee desponta como uma proposta intermediária, oferecendo a síntese sugerida no núcleo de identidade da canção. Esse equilíbrio produz um efeito de sentido de quem deixa a composição “falar por si”, conferindo um efeito de naturalidade ao enunciado. Desse modo, tanto como compositora, quanto como intérprete, Rita Lee constrói seu estilo em um duplo gesto de exploração das intensidades e apaziguamento dos excessos.


Palavras-chave


semiótica da canção; interpretação musical; Rita Lee; Ná Ozzetti; Daniela Mercury

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Referências


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DOI: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-32726

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