A expressão de desejos em construções condicionais insubordinadas com “se ao menos”

Maria Julia Bernardo Comarim, Flávia Bezerra de Menezes Hirata Vale

Resumo


As construções insubordinadas são, segundo Evans (2007), aquelas que apresentam marcas de subordinação, mas ocorrem de maneira sintática, semântica e pragmaticamente independente. As construções condicionais insubordinadas (CCI) têm um uso específico, conforme Hirata-Vale (2015), porque veiculam valores pragmáticos específicos, como a expressão de desejos. Neste artigo, analisam-se qualitativamente as CCI encabeçadas pelo “se ao menos”, coletadas no Corpus do Português. Para tanto, a análise se vale dos parâmetros de condicionalidade de Dancygier (1998) e da classificação funcional de D’Hertefelt (2015) desse tipo de construção nas línguas germânicas. Nas CCI com “se ao menos”, apenas os parâmetros não-assertividade e criação de espaços mentais hipotéticos são mantidos. Nessas construções, emerge o valor de desejo, formalmente marcado pelo imperfeito do subjuntivo. Conclui-se que há uma especialização das CCI encabeçadas pelo “se ao menos” para a expressão de um valor semântico específico de desejo que, embora esteja relacionado à condicionalidade, por se localizar no domínio do hipotético, dela se diferencia, conforme a categorização proposta por D’Hertefelt (2015).


Palavras-chave


insubordinação; condicionalidade; funções pragmáticas; hipoteticidade; desejos.

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DOI: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-12588

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