O controle de traços semântico-pragmáticos sobre possessivos no português

Manoel Siqueira

Resumo


Os possessivos são considerados como uma categoria de palavras que estabelece relação de posse entre um ser possuidor e um elemento possuído. Contudo, apenas em um sentido amplo a relação de posse pode ser considerada como sua função, já que os possessivos podem assumir outras relações. É objetivo deste estudo relacionar traços semântico-pragmáticos com o uso de possessivos pré-nominais com base numa perspectiva cognitivo-funcional. Adotamos as categorias metafóricas apresentadas em Heine et al. (1991), que vão desde o nível mais forte de concretude até o nível mais forte de abstração, organizadas ao longo de uma escala metafórica de pessoa > objeto > atividade > espaço > tempo > qualidade. Utilizamos uma amostra de fala retirada do banco Falares Sergipanos, da qual extraímos 1267 ocorrências de possessivos pré-nominais. Os dados mostram que o controle de traços semântico-pragmáticos é produtivo para a descrição do funcionamento dos possessivos no português, com predomínio da categoria mais concreta, pessoa, e da mais abstrata, qualidade; os menores números são encontrados na categoria tempo. A ocorrência dos possessivos parece estar interligada com a pessoa que produz o enunciado, com o falante, visto que as maiores ocorrências são em categorias relativas ao traço de [+pessoa].


Palavras-chave


Possessivos. Traços semântico-pragmáticos. Cognitivo-funcional.

Texto completo:

PDF

Referências


ALMEIDA, N. M. Gramática metódica da língua portuguesa. 46. ed. São Paulo: Saraiva, 2009

AZEREDO, J. C. Gramática Houaiss da língua portuguesa. 3. ed. São Paulo: Publifolha, 2013.

BATIC, G. C. Towards a Hausa Metaphorical Lexicon: Body Part Nouns. Rivista del Dipartimento di Studi Asiatici e del Dipartimento di Studi e Ricerche su Africa e Paesi Arabi, v. 2006, n. 66, p. 17-41, 2006.

BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 38. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.

BENVENISTE, E. A natureza dos pronomes. Problemas de lingüística geral I, v. 3, p. 277-285, 1995.

BYBEE, J. Background and current context. In: BYBEE, J. Frequency of use and the organization of language. New York: Oxford University Press on Demand, p. 03-34, 2007.

BYBEE, J. Language, usage and cognition. New York: Cambridge University Press, 2010.

CAMARA JR, J. M. Princípios de Lingüística geral. 4. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1964.

CAMPOS JR., H. S. A variação morfossintática do artigo definido na capital capixaba. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciência Humanas e Sociais, 2011.

CARIOCA, C. R. A motivação metafórica na gramaticalização do marcador evidencial de acordo com. Signo, v. 41, n. 70, p. 101-109, 2016.

CASTILHO, A. T. Nova gramática do português brasileiro. 1. ed. 2ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2012.

CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da língua portuguesa. 48. ed. rev. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.

CUNHA, M. A. F.; BISPO, E. B. Pressupostos teórico-metodológicos e categorias analíticas da Linguística Funcional Centrada no Uso. Revista do GELNE, v. 15, p. 49-74, 2013.

CUNHA, C.; CINTRA, L. F. L. Nova gramática do português contemporâneo. 5. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008

FREITAG, R. M. K. Banco de dados Falares Sergipanos. Working Papers em Linguística, v. 14, n. 1, p. 156-164, 2013.

GIVÓN, T. Context as Other Minds: The Pragmatics of Sociality, Cognition and Communication. John Benjamins Publishing Company: Philadelphia, 2005.

GUEDES, S. Emprego do artigo definido em situação de contato dialetal. Domínios de Lingu@gem, v. 13, n. 4, p. 1401-1432, 2019.

HEINE, B. et al. Grammaticalization: A conceptual framework. University of Chicago Press, 1991.

HELLWIG, B.; GEERTS, J. ELAN: Linguistic Annotator. Versão 4.4.0. 2013. Disponível em: mpi.nl/corpus/manuals/manual-elan.pdf. Acesso em: 06 abr. 2020.

LAKOFF, G. Women, fire, and dangerous things. University of Chicago press, 1987.

LEE, H. A Grammaticalization-based Study on Negative Polarity Items. 언어과학연구, v. 33, p. 289-306, 2005.

NEVES, M. H. M. Os pronomes. In: ILARI, R.; NEVES, M. H. M. (orgs.). Gramática do português culto falado do Brasil, vol. 2: Classes de palavras e processos em construção. Editora da UNICAMP, p. 507-622, 2008.

PEREIRA, I; GÖRSKI, E. M. A multifuncionalidade do item “mesmo” e sua(s) possível(is) trajetória(s) de gramaticalização. Guavira Letras, v. 12, n. 22, 2017.

R CORE TEAM. R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria, 2018. Disponível em: . Acesso em: 06 ago. 2020.

SILVA, G. M. O. Realização facultativa do artigo definido diante de possessivo e de patronímico. In: SILVA, G. M. O.; SCHERRE, M. M. P. (Orgs.). Padrões sociolingüísticos: análise de fenômenos variáveis do português falado na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, p. 120-145, 1998.

SIQUEIRA, M. Efeitos do contato entre normas na variação linguística: a presença de artigo definido antecedendo possessivos no falar universitário da UFS. Porto das Letras, v. 6, n. 1, p. 8-33, 2020.

SOARES, A. S. F. Segunda e terceira pessoa–o pronome possessivo em questão: uma análise variacionista. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Universidade Federal do Paraná, 1999.

TAVARES, M. A.; FREITAG, R. M. K. Do concreto ao abstrato: influência do traço semântico-pragmático do verbo na gramaticalização em domínios funcionais complexos. Revista Linguíʃtica, v. 6, n. 1, 2010.

WICKHAM, H. ggplot2: Elegant Graphics for Data Analysis. New York: Springer-Verlag, 2016. Disponível em: https://ggplot2.tidyverse.org.




DOI: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-12026

Apontamentos

  • Não há apontamentos.




Entrepalavras © 2012. Todos os direitos reservados.
Av. da Universidade, 2683, Benfica, CEP 60020-180, Fortaleza-CE | Fone: (85) 3366.7629
Creative Commons License
Entrepalavras (ISSN: 2237-6321) está licenciada sob Creative Commons Attribution-NonCommercial 3.0.