Escrita acadêmica no curso de Geografia: uma análise de experiências discentes

Elizabeth Maria da Silva, Juliana Marcelino Silva

Resumo


Neste artigo, objetiva-se identificar que gêneros são escritos por estudantes de licenciatura em Geografia de uma universidade federal brasileira e em que condições de produção ocorre essa demanda, a partir das próprias experiências deles. Fundamenta-se nos conceitos de gêneros discursivos e suas condições de produção (BAKHTIN, 2003 [1952-1953]). Metodologicamente, desenvolve-se à luz do paradigma interpretativo, enquadrando-se como uma pesquisa de natureza qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994), do tipo híbrida – exploratória (GIL, 1994) e experiencial (MICOLLI, 2006, 2014) –, cujos participantes são estudantes do curso referido. Os registros de transcrição das entrevistas semiestruturadas realizadas, que integram um conjunto de dados de uma pesquisa mais ampla sobre a escrita em contextos acadêmicos, são explorados com base na análise de conteúdo (BARDIN, 2002 [1977]). A análise das experiências desses estudantes com a escrita acadêmica evidencia o que escrevem no seu curso, para quem, para que e como. Destacam-se textos pertencentes a diferentes gêneros discursivos, sejam de formação (resenhas, resumos), sejam de especialistas (artigos científicos), tendo pelo menos dois públicos leitores – um mais específico e predominante, situado no âmbito da sala de aula (professor, alunos e monitor da disciplina) e outro mais amplo, situado externamente à sala de aula, mas ainda no âmbito acadêmico (leitores de anais de evento e de capítulos de livro). Esses gêneros são escritos recorrentemente para atender a fins avaliativos, diretos ou indiretos. Para tanto, a demanda geralmente é ancorada na apresentação de modelos (gerais e específicos) dos gêneros a serem escritos e, em alguns casos, é seguida de um feedback do leitor.


Palavras-chave


Escrita acadêmica. Gêneros acadêmicos. Licenciatura em Geografia.

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DOI: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-31865

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