Deslizamentos de sentido da palavra “mulher” em políticas públicas sobre violência doméstica

Matheus da Silva Medeiros, Michelle Gomes dos Santos

Resumo


Neste artigo, à luz do referencial teórico da Análise do Discurso materialista, objetivamos analisar a cartilha “Mulher, vire a página…”, publicada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, em 2016. A partir da emergência de políticas públicas voltadas para a violência doméstica em nossa sociedade, é relevante pensar sobre como essas políticas públicas produzem sentidos sobre violência de gênero e sobre como elas evidenciam um modo de funcionamento da ordem social. Nossa análise se detém nos deslizamentos da palavra “mulher”, que ora ocupa o espaço de endereçamento, ora ocupa o espaço de discurso sobre. Além disso, mobilizamos o conceito de condições de produção (ORLANDI, 2010) para refletir sobre como formulações anteriores sobre violência doméstica são retomadas no discurso, e o de formações imaginárias, como proposto por Pêcheux (1997a), para pensar sobre a representação do lugar social da mulher na cartilha, partindo de um entendimento de que o gênero está inscrito no jogo das formações imaginárias e das relações de força materializadas na língua. Compreendemos que essas relações de força estão em constante transformação no motor da história, de modo que observamos deslizamentos de sentidos historicamente estabilizados sobre mulheres e violência doméstica.


Palavras-chave


Análise do discurso. Mulher. Violência doméstica. Deslizamentos de sentido.

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DOI: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-21789

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