Ritmo e peso silábico na constituição das palavras prosódicas do protocrioulo do Golfo da Guiné

Gabriela Braga

Resumo


O contato entre lusofalantes e populações africanas multilíngues escravizadas na ilha de São Tomé, África Ocidental, a partir do final do século XV, implicou a emergência de uma nova língua: o protocrioulo do Golfo da Guiné (PGG). Posteriormente, o PGG deu origem ao santome, lung’Ie, angolar e fa d’Ambô. A partir da hipótese de que a formação do léxico do PGG teria motivação prosódica, investigamos se fatores como eurritmia associado ao peso silábico (GHINI, 1993) estariam envolvidos na formação de palavra prosódica mínima (VIGÁRIO, 2003). Levando em consideração a produtividade de alguns processos fonológicos que contribuíram para a configuração (em número de sílabas) do léxico do PGG, damos atenção especial ao processo de aglutinação de vogal (O pé (português) → *ɔpɛ “pé”). Tal processo consiste na interpretação de artigos definidos de étimo português como parte da raiz do item lexical seguinte, resultando numa nova palavra prosódica, constituída por duas ou três sílabas. Entretanto, nossos resultados mostram que o sistema fonológico e prosódico do PGG possibilitou a constituição de palavras tanto com mais quanto com menos sílabas do que no étimo português participante de sua formação. Assim, as hipóteses levantadas não se sustentam: a aglutinação de vogal inicial, por exemplo, realizou-se em poucos itens do PGG, caracterizando-se como processo marginal na língua. Contudo, é possível que exista uma restrição que evite verbos iniciados por vogais, o que parece dialogar com a restrição encontrada nas línguas edoides (que participaram da formação do PGG), de que palavras nominais sejam iniciadas por segmentos vocálicos.


Palavras-chave


Prosódia. Peso silábico. Proto-crioulo do Golfo da Guiné.

Texto completo:

PDF

Referências


AGOSTINHO, A. L. S. Fonologia e método pedagógico do lung’Ie. 2015. Tese (Doutorado em Letras) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.

ARAUJO, G.; Hagemeijer, T. Dicionário Santome-Português/Português-Santome. São Paulo: Hedra, 2013.

BANDEIRA, M. Reconstrução fonológica e lexical do protocrioulo do Golfo da Guiné. 2017. Tese (Doutorado em Letras) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo. doi:10.11606/T.8.2017.tde-05042017-134159.

BANDEIRA, M.; ARAUJO, G. Reconstrução do quadro pronominal do protocrioulo do Golfo da Guiné. Em preparação.

BARRENA, N. Gramatica anobonesa. Madrid: Instituto de Estudios Africanos, 1957.

CAMPBELL, Lyle. Historical linguistics: an introduction. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2004 [1998].

FERRAZ, L. I. The creole of São Tomé. Johannesburg: Witwatersrand University Press, 1979.

GARFIELD, R. A history of São Tomé island: 1470-1655. The key to Guinea. San Francisco: Mellen Research University Press, 1992.

GHINI, M. F-formation in Italian: a new proposal. In: DYCK, C. (ed.). Toronto working papers in linguistics. Toronto: Universityof Toronto, v. 12, n. 2, p.41-78, 1993.

HAGEMEIJER, T. As línguas de São Tomé e Príncipe, Revista de Crioulos de Base Lexical Portuguesa e Espanhola, v.1, p. 1-29. 2009a.

HAGEMEIJER, T. Initial vowel agglutination in the Gulf of Guinea creoles. In: ABOH, Enoch Oladé; SMITH, Norval (Eds.). Complex processes in the new languages. Creole Language Library, v. 35.Amsterdam/ Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, p. 29-50, 2009b.

HLIBOWICKA-WĘGLARZ, B. A origem dos crioulos de base lexical portuguesa no Golfo da Guiné. Romanica Cracoviensia, Kraków, v.11, p. 177-185, 2012. Disponível em: . Acesso em: 28 jun. 2016.

HOLM, J. Pidgins and creoles. v. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1989.

LADHAMS, J. Agglutination and the African Contribution to the Portuguese-based Creoles, 2007. Disponível em:. Acesso em: 20 out. 2016.

MAURER, P. L’Angolar: Un créole afroportugais parlé à São Tomé; Notes de grammaire, textes, vocabulaires. Hamburg: Helmut BuskeVerlag, 1995.

MAURER, P. Lung’Ie. Londres: BattlebridgePublications, 2009.

MASSINI-CAGLIARI, G. Epêntese e paragoge: processos fonológicos distintos. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DA ABRALIN, 2., e INSTITUTO LINGÜÍSTICO, 2000, Florianópolis, Anais... Florianópolis: ABRALIN – Associação Brasileira de Lingüística. p.400-410, 2000. CD-ROM.

SCHANG, E. L’émergence des creoles portugais du Golfe de Guinée. 2000. Tese de doutorado. Université de Nancy 2.

SEGORBE, A. Gramática descriptiva del fa d’ambô. Barcelona: CEIBA Ediciones, 2007.

TEYSSIER, P. História da língua portuguesa. 4ª. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

VIGÁRIO, M. The prosodic word in European Portuguese. Berlin-New York: Mouton de Gruyter, 2003.

ZUCARELLI, F. L. Encontros vocálicos em português arcaico: uma interpretação fonológica, Alfa, São Paulo, v. 43, n. 1, p. 29-48. 2004.




DOI: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-11722

Apontamentos

  • Não há apontamentos.




Entrepalavras © 2012. Todos os direitos reservados.
Av. da Universidade, 2683, Benfica, CEP 60020-180, Fortaleza-CE | Fone: (85) 3366.7629
Creative Commons License
Entrepalavras (ISSN: 2237-6321) está licenciada sob Creative Commons Attribution-NonCommercial 3.0.