Prótese vocálica em sequência sC inicial no francês como língua adicional: análise espectral de usuárias brasileiras
Resumo
O presente trabalho relata dados espectrais das vogais protéticas produzidas por informantes brasileiras em sequência de sibilante com consoante (#sC) em língua francesa como língua adicional (LA). Esse grupo experimental foi composto por 9 brasileiras (24-37 anos) residentes em Genebra (Suíça), sendo todas falantes nativas do português brasileiro (PB) como única língua materna (L1) e igualmente estudantes do francês LA. A análise dos dados, realizada por meio de metodologia individual, foi concebida à luz dos Sistemas Adaptativos Complexos (SAC) (LARSEN-FREEMAN, 1997; DE BOT; LOWIE; VERSPOOR, 2007; LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008; ELLIS; LARSEN-FREEMAN, 2009) e da Fonologia Gestual (BROWMAN; GOLDSTEIN, 1988, 1989, 1992; ALBANO, 1990, 2001). A presente investigação apresenta os valores formânticos brutos de F1, F2 e F3 das 451 próteses vocálicas realizadas durante a leitura de 1296 frases-veículo. Os resultados apontam a existência de fones vocálicos híbridos quanto à sua qualidade: média-alta anterior observada no PB, porém com arredondamento bilabial parcial recorrente no francês. Isso demonstra que o repertório fonológico das informantes da presente pesquisa parece não refletir fielmente a L1, corroborando trabalhos presentes na literatura alinhada aos SAC. Legitima-se, por fim, a dinamicidade, a imprevisibilidade e a não linearidade da linguagem postuladas pelo paradigma da complexidade no desenvolvimento de LA.
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DOI: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-21614
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