Estratégias argumentativas de universitários participantes de três diferentes práticas pedagógicas

Stefânio Ramalho do Amaral, Selma Leitão

Resumo


Este estudo investigou diferenças no raciocínio argumentativo de universitários egressos de três diferentes práticas pedagógicas. O raciocínio argumentativo é uma atividade fundamentalmente metacognitiva, que se realiza através da justificação de ideias, antecipação de perspectivas alternativas e contrárias, e réplica a perspectivas divergentes (KUHN, 1991). Foram realizadas entrevistas, semiestruturadas e individuais, sobre dois tópicos quotidianos, sociais e polemizáveis, com 15 universitários. Dentre os entrevistados, seis estudantes de Psicologia, egressos de uma disciplina introdutória à Psicologia (DIP), que foca a prática intensiva de argumentação como mediadora no ensino-aprendizagem de conteúdos curriculares; quatro alunos de Filosofia, egressos de uma disciplina introdutória à Lógica (DIL) e cinco alunos de Ciências Sociais, curso que não possui em sua estrutura curricular práticas com foco específico no desenvolvimento do raciocínio dos estudantes. As entrevistas foram analisadas com base em categorias propostas por Kuhn (1991) e, em seguida, os dados dos três grupos-alvo foram comparados quanto a possíveis diferenças nas estratégias argumentativas usadas pelos respectivos participantes. As análises mostraram que a inserção em disciplinas focadas na melhoria do raciocínio (DIP e DIL) se associa a uma tendência no indivíduo a refletir sobre os fundamentos e limites de suas ideias, através da elaboração de justificativas e evidências e da antecipação de contra-argumentos e teorias alternativas, respectivamente. Entretanto, discute-se que fatores como motivação, falta de preparo prévio e conceituações acerca do objetivo central da argumentação, a saber, defesa do próprio ponto de vista e consideração de perspectivas alternativas, podem explicar o limitado desempenho observado em algumas competências.


Palavras-chave


Argumentação no Ensino Superior. Lógica no Ensino Superior. Raciocínio Argumentativo.

Texto completo:

PDF

Referências


ANDREWS, R. Teaching and learning argument. London: Cassell, 1995.

______. Argumentation in higher education: improving practice through theory and research. London: Routledge, 2010.

ANDREWS, R. et al. Argumentative skills in first year undergraduates: a pilot study. New York: The Higher Education Academy, 2006.

ANDRIESSEN, J.; SCHWARZ, B. Argumentative design. In: MIRZA, N. M.; PERRET-CLERMONT, A-N. (Eds.). Argumentation and education: theoretical foundations and practices. New York: Springer, 2009. p. 145-174.

BARON, J. The Skills of Argument by Deanna Kuhn. In: Informal Logic, v. XIV, n. I, 1991.

BAKHTIN, M., VOLOCHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1995. Original publicado em 1929-1930.

BREM, S. K. RIPS, L. J. Explanation and evidence in informal argument. Cognitive Science, v. 24, p. 573–604, 2000.

COSTA, A. Desenvolver a capacidade de argumentação dos estudantes: um objectivo pedagógico fundamental. Revista Iberoamericana de Educación, v. 5, n. 46, p. 1-8, 2008.

FARACO, C. A. Linguagem & Diálogo: as ideias do círculo de Bakhtin. Curitiba: Criar Edições. 2003.

FLICK, U. Introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2009.

FUENTES, C. Fundamentos del debate como instrumento educativo: reglas de funcionamiento y sistema de evaluación. Santiago, Chile: 2009.

______. Elementos para o desenho de um modelo de debate crítico na escola. In: LEITÃO, S.; DAMIANOVIC, M. C. Argumentação na Escola: O Conhecimento em Construção. Campinas: Pontes, 2011. p. 13-46.

GOVIER, T. A Practical Study of Argument. 5. ed. Belmont, CA: Wadsworth. 2001.

HAGLER, D. A., BREM, S. K. Reaching agreement: The structure & pragmatics of critical care nurses’ informal argument. Contemporary Educational Psychology, v. 33, n. 3, p. 403-424, 2008. doi: 10.1016/j.cedpsych.2008.05.002

HALPERN, D. F. Thought and knowledge. Hillsdale, NJ: Erlbaum, 1984.

HARMAN, G., Change in View: Principles of Reasoning. Cambridge, Massachusetts: M.I.T. Press/Bradford Books, 1986.

KEEFER, M, W. Distinguishing Practical and Theoretical Reasoning: A Critique of Deanna Kuhn’s Theory of Informal Argument. Informal Logic v. 18, n. 1. p. 35-55. 1996.

KLACZYNSKI, P. A. Motivated scientific reasoning biases, epistemological beliefs, and theory polarization: A two-process approach to adolescent cognition. Child Development, v. 71, n. 5, p. 1347–1366, 2000.

KUHN, D. The Skills of Argument. EE.UU.: Cambridge University Press, 1991.

______. Thinking as Argument. Harvard Educational Review, v. 62, n. 2, p. 155-179, jul. 1992.

LARSON, A., BRITT. A. Improving Student’s Evaluation of Informal Arguments. The Journal of Experimental Education, v. 77, n. 4, p. 339-365, 2009.

LEITÃO, S. The potential of argument in knowledge building. Human Development, v. 43, p. 332–360, 2000. doi:10.1159/000022695.­­

______. Argumentação e desenvolvimento do pensamento reflexivo. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 20, n. 3, p. 454-462, 2007a.

______. Processos de construção do conhecimento: a argumentação em foco. Pró-posições, v. 18, n. 3, p. 75-92, 2007b.

______. La dimensión epistêmica de la argumentación. ln: KRONMÜLLER, E.; CORNEJO, C. (Eds.). La pregunta por la mente: aproximaciones desde Latinoamérica. Santiago de Chile: JCSaéz Editor, 2008. p. 89-119.

______. O lugar da argumentação na construção de conhecimento em sala de aula. In: LEITÃO, S.; DAMIANOVIC, M. C. Argumentação na Escola: O Conhecimento em Construção. Campinas: Pontes, 2011. p. 13-46.

______. O trabalho com argumentação em ambientes de ensino-aprendizagem: um desafio persistente. Uni-pluri/versidad, v. 12, n. 3, 2012, p. 23-37.

LEMKE, J. Analysing Verbal Data: Principles, Methods and Problems. In: FRASER, K. T. International Handbook of Science Education. Kluwer, 1998. p. 1175-1189.

LIRA, D. Análise da Argumentação de Estudantes Universitários em Ensaios Acadêmicos. Dissertação (Mestrado em Psicologia Cognitiva). Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2015.

MACÊDO, G. F. C. Desenvolvimento de habilidades argumentativas: do Debate Crítico à argumentação cotidiana. Dissertação (Mestrado em Psicologia Cognitiva). Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2014.

MARTTUNEN, M. Assessing argumentation skills among Finnish university students. Learning and Instruction, v. 4, p. 175–191, 1994. doi:10.1016/0959-4752(94)90010-8.

MERCER, N. Classroom talk and the development of self-regulation and metacognition. In: WHITEBREAD, D.; MERCER, N.; HOWE, C.; TOLMIE, A. (Eds.), Self-regulation and dialogue in primary classrooms British Journal of Educational Psychology. Monograph Series II: Psychological Aspects of Education - Current Trends. n. 10. Salisbury, Reino Unido, 2013.

MERCIER, H., SPERBER, D. Why do human reason? Arguments for an argumentative theory. Behavioral and Brain Sciences, v. 34, n. 2, p. 57-74, 2011.

PERKINS, D. N. Postprimary education has little impact on informal reasoning. Journal of Educational Psychology, v. 77, n. 5, p. 562–71, 1985.

RAPANTA, C, GARCIA-MILA, M, GILABERT, S. What Is Meant by Argumentative Competence? An Integrative Review of Methods of Analysis and Assessment in Education. Review of Educational Research, v. 83, n. 4, 2013.

RAMÍREZ, N. L. R. Desenvolvimento do pensamento reflexivo: avaliação da qualidade da argumentação em situação de debate crítico. Dissertação (Mestrado em Psicologia Cognitiva). Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2012.

RIPS, L. J. Circular reasoning. Cognitive Science, v. 26, n. 6, p. 767–95, 2002.

SÁ, W. C. et al. Thinking about personal theories: Individual differences in the coordination of theory and evidence. Personality and Individual Differences, v. 38, n. 5, p. 1149–1161, 2005.

SAIZ, C. Pensamiento crítico: conceptos básicos y actividades prácticas. Madrid: Pirámide, 2002.

SAIZ, C., RIVAS, S. F. Evaluación del pensamiento crítico: una propuesta para diferenciar formas de pensar. Ergo, Nueva Época, 22-23. pp. 25-66. mar./set. 2008

SILVA, T. M. Estudo comparativo de competências argumentativas entre universitários participantes e não participantes do Modelo Debate Crítico. Dissertação (Mestrado em Psicologia Cognitiva). Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2016.

SOUZA, D. A. Aprender a argumentar: um estudo do desenvolvimento da produção argumentativa de estudantes universitários. Dissertação (Mestrado em Psicologia Cognitiva). Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2013.

TAYLOR, C. Sources of the self. Cambridge: Harvard University Press. 1989.

TORGERSON, C. et al. A Systematic Review of Effective Methods and Strategies for Improving Argumentative Skills in Undergraduate Students in Higher Education, York: The Higher Education Academy, 2006.

VARGHESE, S., ABRAHAM, S.A. Undergraduates Arguing Their Case. Journal of Second Language Writing, v. 7, n. 3, p. 287-306, 1998.

WALTON, D. Lógica Informal: Manual de Argumentação Crítica. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.

______. Argument schemes for presumptive reasoning. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum Associate, 1996.

ZAMUDIO, B.; ROLANDO, L.; ASCIONE, A. ¿Qué se enseña cuando se enseña argumentación? Revista LSD: Lenguaje, Sujeto y Discurso, 2, p. 27 – 38. 2006.




DOI: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-11398

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2019 Entrepalavras



Entrepalavras © 2012. Todos os direitos reservados.
Av. da Universidade, 2683, Benfica, CEP 60020-180, Fortaleza-CE | Fone: (85) 3366.7629
Creative Commons License
Entrepalavras (ISSN: 2237-6321) está licenciada sob Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0.