Violência discursiva, argumentação e memória no cenário político brasileiro: a (des)virtuosidade do discurso público

Rodrigo Seixas

Resumo


Além dos tão corriqueiros insultos, calúnias e difamações, comuns no período eleitoral, temos acompanhado o aumento de casos de violência explícita, pelo/do discurso, que tendem a fomentar ações e reações reais de violência física pela população. Pode-se dizer que um dos motivos para esse crescimento é o poder persuasivo do discurso e a falta de comprometimento ético por parte dos sujeitos em geral, mas em especial dos agentes políticos, em ajustar seus discursos pelo parâmetro ético da democracia. Nesse sentido, este artigo pretende problematizar os limites éticos do discurso público, lançando luzes sobre a importância de analisar não só o ato discursivo em si, isolado, mas também o agente do ato (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2005), em busca de uma mais bem adequada atividade hermenêutica. Para tanto, analiso o enunciado “vamos fuzilar a petralhada…” por meio da noção de virtude discursiva, proposta por Marie-Anne Paveau (2015) e, ao final, aponto para a necessidade de compreensão da responsabilidade (BAKHTIN, 1993) de cada agente como condição para o exercício ético e democrático da palavra pública no Brasil.


Palavras-chave


Violência discursiva. Virtude discursiva. Discurso político.

Texto completo:

PDF

Referências


ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução Roberto Raposo. 10ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.

ANGENOT, Marc. Dialogues des sourds: traité de rhétorique antilogique. Paris: Mille et une nuits, 2008.

BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato (1919-1921). Tradução de Carlos Alberto Faraco e Cristovão Tezza do texto da edição americana Towards a Philosophy of the Act. Austin: University of Texas Press, 1993.

BOBBIO, Norberto. Dicionário de política. Tradução Carmem C, Varriale et ai. Brasília: Editora da UNB, 1998.

BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 31 dez. 1940.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p.

CIPRIANI, Juliana. Veja 10 frases polêmicas de Bolsonaro que o deputado ‘considerou’ brincadeira. Seção Política. Estado de Minas (EM). 2018. Disponível em: . Acesso em: 27. Set. 2018.

DANBLON, Emmanuelle. Argumenter en démocratie. Bruxelas: Éditions Labor, 2004.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. 14. ed. São Paulo: Editora da USP, 2015.

MOUFFE, Chantal. “Por um modelo agonístico de democracia”. Revista Sociologia Política, Curitiba, 25, p. 11-23, nov. 2005.

OSAKABE, Marcelo. Bolsonaro no Roda Viva: ‘Não houve golpe militar em 1964’. Estado de São Paulo. 30 jul. 2018. Disponível em:https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,nao-houve-golpe-militar-em-64-afirma-bolsonaro-no-roda-viva,70002423000. Acesso em: 31.Set. 2018.

PAVEAU, Marie-Anne. Linguagem e moral: uma ética das virtudes discursivas. Tradução Ivone Benedetti. Campinas/SP: Editora da Unicamp, 2015.

PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da argumentação: a nova retórica. Tradução Maria E. de Almeida Prado Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

PIRES, Vera Lúcia; SOBRAL, Adail. “Implicações do estatuto ontológico do sujeito na teoria discursiva do Círculo Bakhtin, Medvedev, Voloshínov”. Bakhtiniana, São Paulo, 8 (1): pp. 205-219, Jan./Jun., 2013.

REIS, Daniel Aarão. Ditadura e democracia no Brasil. São Paulo: Zahar, 2014

RIBEIRO, Janaína. “Vamos fuzilar a petralhada”, diz Bolsonaro em campanha no Acre. Seção Brasil. Exame. 4. Set. 2018. Disponível em: <>. Acesso em: 30 Set. 2018.

RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa. Tomo I. São Paulo: Papirus, 1994.

RODRIGUES, Adriano Duarte. “Do discurso da violência à violência do discurso”. Revista da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL, nº. 16, Lisboa, Edições Colibri, 2003, pp. 13-24.

SOBRAL, Adail. “O conceito de ato ético de Bakhtin e a responsabilidade moral do sujeito”. Bioethikos. Centro Universitário São Camilo - 2009; 3(1):121-126.

WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. Tradução Leonidas Hegenberg e Octany Silveira da Mota. São Paulo: Cultrix, 2004.




DOI: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-11394

Apontamentos

  • Não há apontamentos.




Entrepalavras © 2012. Todos os direitos reservados.
Av. da Universidade, 2683, Benfica, CEP 60020-180, Fortaleza-CE | Fone: (85) 3366.7629
Creative Commons License
Entrepalavras (ISSN: 2237-6321) está licenciada sob Creative Commons Attribution-NonCommercial 3.0.