A chefa e a presidenta: marcação do gênero feminino e seus reflexos sociais

Élide Elen Santana

Resumo


A flexão de gênero é um fenômeno linguístico que apresenta diversas irregularidades e sua variação divide a opinião de falantes e especialistas. Estão presentes em dicionários do português e em gramáticas normativas (Fernão de Oliveira, 1536; Barbosa, 1822; Said Ali, 1931; BECHARA, 2009; CUNHA; CINTRA, 2008) as variantes não flexionadas “chefe” e “presidente” e as variantes flexionadas “chefa” e “presidenta”. A variedade de formas utilizadas revela incerteza por parte dos falantes e demonstra que a marcação de gênero é um fenômeno que vai além do âmbito linguístico e que reflete estigmas e padrões da sociedade. Este trabalho resulta da dissertação de mestrado da autora (SANTANA, 2015) na qual são apresentadas as formas utilizadas para os conceitos “mulher que chefia” e “mulher na presidência” identificadas em 344 informantes oriundos de 77 localidades da região Nordeste do Brasil segundo os princípios teórico-metodológicos da Geolinguística Pluridimensional (CARDOSO, 2010; CHAMBERS; TRUDGILL, 1994) e da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008 [1972]). A pesquisa utilizou o corpus composto pelo Projeto Atlas Linguístico do Brasil mediante aplicação in loco do seu questionário linguístico (COMITÊ NACIONAL DO PROJETO ALiB, 2001). Objetivou-se, com isso, verificar os usos linguísticos e as possibilidades de marcação de gênero no português, assim como considerar os estudos de gênero demonstrando o encaixamento sociolinguístico das variáveis.


Palavras-chave


Flexão de gênero. Sociolinguística variacionista. Geolinguística.

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DOI: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-21117

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