Construções contrastivas com enquanto que e sendo que

Nilza Barrozo Dias

Resumo


Os objetivos deste trabalho são verificar quais relações semânticas identificadas por Neves (2000) para a conjunção mas podem ser encontradas nas construções em estudo, no século XXI; e quais relações semânticas das construções com enquanto que e sendo que, identificadas no século XXI, são recorrentes nos séculos XVI-XX. Utilizo os pressupostos da Linguística Baseada no Uso, propostos por Bybee (2016) e Diessel (2017), que usam bases teóricas do Funcionalismo e da Linguística Cognitiva. Apresenta-se um esquema muito amplo [X- QUE conector], sendo o X representado na fonte, pela conjunção adverbial enquanto e pelo elemento verbal sendo, que apontam, respectivamente, tempo simultâneo e em curso, formando junto com o que um chunk de valor contrastivo. Considera-se como hipótese que a motivação de o falante migrar elementos linguísticos de base temporal para a categoria de conectores contrastivos se assenta no tempo simultâneo e em curso, que proveem material para o contraste. A primeira construção instancia preferencialmente um contraste simples que se assenta na comparação de eventos, de indivíduos, de resultados estatísticos, de itens lexicais, enquanto a segunda construção é mais usada para fazer a relação semântica de parcialidade em relação ao primeiro segmento e de gradação em relação ao primeiro segmento ou à porção maior de informação. Os novos conectores fazem uma extensão da rede contrastiva.


Palavras-chave


contraste; enquanto que; sendo que.

Texto completo:

PDF

Referências


BOYLAND, Joyce Tang. Usage-based Models of Language. In: D. Eddington (ed.). Experimental and quantitative Linguistics. Munich: l Lincom, 2009.

BYBEE, Joan. Sequentiality as the basis of constituent structure. In: Givón, T.; Malle, Bertram F. (eds.). The evolution of language out of pre-language. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2002 (p. 109-134).

BYBEE, Joan. Língua, uso e cognição. São Paulo: Cortez, 2016.

CASTILHO, Ataliba T. Gramática do Português Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010.

CORRÊA, Karina. A construção não prototípica sendo que. In: SEMINÁRIO DOS ALUNOS DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DO INSTITUTO DE LETRAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE. Comunicação pessoal. UFF. Niterói, Rio de Janeiro. 2021.

CORRÊA, Karina. A mudança linguística da construção "acontece que". 2019. Dissertação (Mestrado em Estudos de Linguagem) –Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Niterói, 2019.

CROFT, William. Radical Construction Grammar. Oxford: Oxford University Press, 2009.

DIAS, Nilza Barrozo. As relações semânticas contrastivas na combinação de orações coordenadas com conectores não prototípicos. Palestra no IV SEMINÁRIO DE ESTUDOS DO PORTUGUÊS EM USO (PORUS). Palestra. Mesa-redonda: Português em uso: contraste linguístico. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2022.

DIAS, Nilza Barrozo. As relações semânticas contrastivas na combinação de orações coordenadas com conectores não prototípicos. Palestra. In: XIX Congresso ALFAL. 08 a 13/08/2021 / XIX. 2021.

DIAS, Nilza Barrozo; ARAÚJO, Jocineia; PACHECO, Priscilla. Construções contrastivas acontece que e logo eu. Revista (Com)textos Linguísticos, Vitória, v. 14, n. 27, p. 297-316, 2020.

DIAS, Nilza Barrozo; CÔRREA, Karina. O Valor Contrajuntivo de Acontece Que. Confluência. Rio de Janeiro: Liceu Literário Português, n. 59, p. 81-104, jul.-dez., 2020b.

DIESSEL, Holger; HILPERT, Martin. Frequency effects in grammar. In: Oxford Research Encyclopedias. Oxford: Oxford University Press, 2016. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/303540830_Frequency_effects_in_grammar. Acesso em: 22 fev. 2023.

DIESSEL, Holger. Usage-based linguistics. In:Aronoff, M (editor) Oxford Research Encyclopedias. Oxford: Oxford University Press, 2017. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/320558018_Usage-based_linguistics. Acesso em: 22 fev. 2023.

DIESSEL, Holger. The grammar Network: How Linguistic Structure is Shaped by Language Use. United Kingdom. Cambridge: Cambridge University Press, 2019.

DUCROT, Oswald; VOGT, Carlos. De magis a mais: une hypothèse sémantique. Revue de Linguistique Romane, n. 171-172, p. 317-341, 1979.

FORD, Cecília. The treatment of contrasts in interaction. In: COUPER- GIVÓN, Tamly. Syntax. An Introduction. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing, 2001.

GOLDEBERGH, Adele; VAN DER AUWERA, Johan. This is to count as a construction. Folia Linguística, n. 46, v. 1, p. 109-132, 2012.

HALLIDAY, Michael A. K. An introduction to functional grammar. London: Edward Arnold, 1985.

HOPPER, Paul; TRAUGOTT, Elizabeth. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press, 1993.

HORTA, Leandro. Construções “em vez de” e “ao invés de”: níveis de substituição. 2021. Dissertação. (Mestrado em Estudos de Linguagem) – Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Niterói, 2021.

KUHLEN, Elizabeth; KORTMANN, Bernd (eds.). Cause, condition, concession, contrast. Cognitive and discourse perspective. Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 2000.

LANGACKER, Ronald. Cognitive Grammar. A Basic Introduction. Oxford: Oxford University Press, 2008.

LANGACKER, Ronald. Foundations of Cognitive Grammar. Stanford: Stanford University Press, 1987.

LONGHIN, Sanderleia. A gramaticalização da perífrase conjuncional só que. 2003. Tese. (Doutorado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, 2003.

LONGHIN, Sanderleia; FERRARI, Luísa. Mudança no sistema de contraste no português: entre codificação e inferenciação. Revista da Abralin. v. 19, n. 1, 2020.

LYONS, John. Semântica. Lisboa: Editorial Presença/Martins Fontes, 1996.

NEVES, Maria Helena. Gramática de Usos do Português. São Paulo: UNESP, 2000.

NEVES, Maria Helena. O coordenador interfrasal mas – invariância e variantes. São Paulo: Alfa, 1984.

PACHECO, Priscilla. A construção acontece que no português brasileiro contemporâneo: uma análise baseada no uso. 2020. Dissertação. (Mestrado em Estudos de Linguagem) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, 2020.

PACHECO, Priscilla. A construção ocorre que: uma análise baseado no uso. In: IV SEMINÁRIO DE ESTUDOS SOBRE O PORTUGUÊS EM USO. Comunicação pessoal. Universidade Federal Fluminense. Niterói, Rio de Janeiro. 2022.

RAMAT, Ana; MAURI, Caterina. From cause to contrast: a study in semantic change. 2012. Disponível em: https://www.academia.edu/975939/From_cause_to_contrast_A_study_in_semantic_change. Acesso em: maio 2022.

RAMOS, Jocineia. Quis me dar exemplos prontos, logo eu que estudo a língua uso: a construção LOGO X. 2021. Tese (Doutorado em Estudos de Linguagem) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, 2021.

SWEETSER, Eve. From Etymology to Pragmatics. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.

WIERZBICKA, Anna. Lingua mentalis. The Semantics of Natural language. New York: Academic Press, 1980.




DOI: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-12599

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


URL da licença: https://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0/deed.es

Entrepalavras © 2012. Todos os direitos reservados.
Av. da Universidade, 2683, Benfica, CEP 60020-180, Fortaleza-CE | Fone: (85) 3366.7629
Creative Commons License
Entrepalavras (ISSN: 2237-6321) está licenciada sob Creative Commons Attribution-NonCommercial 3.0.