Compreender o não visível: um convite à leitura de imagens e imaginários em tiras

Eveline Coelho Cardoso, Anabel Medeiros Azerêdo Paula

Resumo


A tira inscreve-se no domínio discursivo midiático como um gênero proveniente do hipergênero quadrinho (RAMOS, 2009a, 2009b). Trata-se de uma produção verbo-visual flexível, não raramente apenas não-verbal, que pode ser um trunfo em sala de aula, por mobilizar ativamente recursos imagéticos e conhecimentos de mundo. Segundo Charaudeau (2013b), o texto visual parece decifrar-se naturalmente e não exigir aprendizagem sistemática, porém, requer saberes específicos de conhecimento e de crença para a construção de seu sentido. Considerando que tais saberes estruturam os imaginários sociodiscursivos subjacentes a toda representação do mundo mediada pela linguagem (CHARAUDEAU, 2007, 2013a), o presente trabalho investiga sua incidência no processo de interpretação/compreensão de quatro peças “mudas” (POSTEMA, 2018), de autoria dos cartunistas brasileiros Laerte Coutinho e Alexandre Beck. A partir da descrição e análise do corpus, evidencia-se a importância do processo inferencial interdiscursivo, que revela os imaginários sociodiscursivos constituintes do texto, relacionados ao propósito intencional de captação do leitor para determinação do ponto de vista. Espera-se, assim, fornecer subsídios para amparar estratégias de formação de leitores mais competentes, capazes de articular semanticamente o visível e o não visível dos textos.


Palavras-chave


Tiras. Imaginário sociodiscursivo. Semiolinguística.

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DOI: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-32537

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