Aumento intenso no uso do conector daí em Florianópolis: mudança por difusão?

Maria Alice Tavares

Resumo


À luz da sociolinguística variacionista, tomo os conectores e, aí, daí e então como variantes da função discursiva denominada “sequenciação retroativo-propulsora de informações”, responsável pelo estabelecimento de uma relação coesiva de continuidade e consonância entre enunciados. Tenho por objetivo reanalisar a distribuição do conector daí quanto ao sexo e à idade observada em Tavares (2003), correlacionando esses fatores em busca de uma explicação mais adequada para os padrões de distribuição obtidos. Os dados foram extraídos de 48 entrevistas sociolinguísticas do Banco de Dados VARSUL/Florianópolis (SC). Essas entrevistas foram feitas com informantes de ambos os sexos e de quatro grupos etários: 9 a 12 anos; 15 a 21 anos; 25 a 50 anos; mais de 50 anos. Os resultados revelam mudança intensa no sentido de o conector daí ser muito frequente entre pré-adolescentes de ambos os sexos e entre garotas adolescentes, mas ser de uso raro entre garotos adolescentes e entre mulheres e homens com mais de 25 anos. Esses padrões de distribuição sugerem mudança por difusão. Esse tipo de mudança ocorre quando falantes de diferentes línguas ou dialetos entram em contato. As garotas adolescentes foram o primeiro grupo a acelerar o uso do daí, portanto podem ser consideradas líderes do processo de difusão.


Palavras-chave


Difusão. Liderança feminina. Conectores sequenciadores.

Texto completo:

PDF

Referências


ANDROUTSOPOULOS, J. Research on youth language. In: AMMON, U.; DITTMAR, N.; MATTHEIER, K. J.; TRUDGILL, P. (Eds.). Sociolinguistics. An international handbook of the science of language and society. v. 2, Berlin: de Gruyter, 2005. p. 1496-1505.

BUCHSTALLER, I. Diagnostic of age-graded linguistic behavior: the case of the quotative system. Journal of Sociolinguistics, v. 10, n. 1, p. 3-30, 2006.

CHESHIRE, J. Sex and gender in variationist research. In: CHAMBERS, J. K.; TRUDGILL, P.; SCHILLING-ESTES, N. (Eds.). The handbook of language variation and change. Oxford: Blackwell, 2003. p. 423-443.

COSERIU, E. Coordinación latina y coordinación románica. In: ______. Estudios de lingüística románica. Madri: Guedos, 1977. p. 203-231.

CUKOR-AVILA, P. Some structural consequences of diffusion. Language in Society, v. 41, p. 615-640, 2012.

______; BAILEY, G. The interaction of transmission and diffusion in the spread of linguistic forms. University of Pennsylvania Working Papers in Linguistics, v. 17, n. 2, Selected Papers from NWAV 39, p. 41-49, 2011.

GUY, G. R. Variation and change. In: MAGUIRE, W.; McMAHON, A. (Eds.). Analysing variation in English. Cambridge: Cambridge University Press, 2011. p. 178-198.

GUY, G. R.; ZILLES, A. Sociolinguística quantitativa: instrumental de análise. São Paulo: Parábola, 2007.

HOPPER, P.; TRAUGOTT, E. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

KERSWILL, P.; CHESHIRE, J.; FOX, S.; TORGERSEN, E. English as a contact language: the role of children and adolescents. In: SCHREIER, D.; HUNDT, M. (Eds.). English as a contact language. Cambridge: Cambridge University Press, 2013. p. 258-282.

LABOV, W. The intersection of sex and social class in the course of linguistic change. Language Variation and Change, v. 2, p. 205-254, 1990.

______. Principles of linguistic change: social factors. Oxford: Blackwell, 2001.

______. Transmission and diffusion. Language, v. 83, n. 2, p. 344-387, 2007.

______. Principles of linguistic change: cognitive and cultural factors. Oxford: Blackwell, 2010.

MILROY, L. Social networks. In: CHAMBERS, J. K.; TRUDGILL, P.; SCHILLING-ESTES, N. (Eds.). The handbook of language variation and change. Oxford: Blackwell, 2004. p. 573-600.

MEYERHOFF, M. Introducing sociolinguistics. London: Routledge, 2006.

PAGOTTO, E. G. Variação e(é) identidade. Maceió: EDUFAL, 2004.

Sankoff, D.; Tagliamonte, S. A.; Smith, E. Goldvarb X: a multivariate analysis application. Toronto: Department of Linguistics; Ottawa: Department of Mathematics. 2005. Disponível em http://individual.utoronto.ca/tagliamonte/goldvarb.html. Acesso em 14 de outubro de 2017.

SILVA, W. P. B. Conectores sequenciadores E e AÍ em contos e narrativas de experiência pessoal escritos por alunos de ensino fundamental: uma abordagem sociofuncionalista. 2013. 120 f. Dissertação (Mestrado em Linguística). Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2013.

SILVEIRA BUENO, F. Grande dicionário etimológico-prosódico da língua portuguesa. São Paulo: Saraiva, 1965.

TAGLIAMONTE, S. A. So who? Like how? Just what? Discourse markers in the conversations of young Canadians. Journal of Pragmatics, v. 37, p. 1896-1915, 2005.

______. Analysing sociolinguistic variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.

______. Variationist sociolinguistics: change, observation, interpretation. Cambridge: Wiley-Blackwell, 2012.

______; D’ARCY, A. Peaks beyond phonology: adolescence, incrementation, and language change. Language, v. 85, n. 1, p. 58-107, 2009.

TAVARES, M. A. A gramaticalização de E, AÍ, DAÍ e ENTÃO: estratificação/variação e mudança no domínio funcional da sequenciação retroativo-propulsora de informações – um estudo sociofuncionalista. 2003. 307 p. Tese (Doutorado) – Departamento de Letras, Curso de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

______. Mudança geracional versus difusão interdialetal: uma abordagem sociofuncionalista a conectores sequenciadores. Natal: UFRN, 2018. 92 p.




DOI: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-31674

Apontamentos

  • Não há apontamentos.




Entrepalavras © 2012. Todos os direitos reservados.
Av. da Universidade, 2683, Benfica, CEP 60020-180, Fortaleza-CE | Fone: (85) 3366.7629
Creative Commons License
Entrepalavras (ISSN: 2237-6321) está licenciada sob Creative Commons Attribution-NonCommercial 3.0.