“E nunca mais falou palavra”: a terceira margem de si como autogoverno

Ricardo Afonso-Rocha, Iago Moura Melo

Resumo


Neste texto, tematizamos o silêncio-de-si como forma de autogoverno. Nosso objetivo é compreender como, no conto “A terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa, ocorrem vestígios de resistência à injunção fascista a dizer, na forma como a personagem “pai” se constrói. Observaremos, ainda, como que, pelo silêncio fundante, o pai permanece em silêncio-de-si e como esse silêncio é significado no conto, a partir dos gestos de interpretação das outras personagens. Para isso, tratamos do silêncio enquanto materialidade significante específica, lugar em que sujeito e sentido se movem largamente, a partir das lentes da Análise Materialista de Discurso. Recorremos a autores como Pêcheux, Orlandi, Foucault e Dinouart para a constituição de nossos gestos de interpretação. É o silêncio fundante, pensamos, que admite a permanência no não dizer como forma de objetar a Identidade, o se (impessoal); razão pelo que ele pode expressar autogoverno. Tomamos partido da reflexão foucaultiana sobre o governo de si e dos outros, pela via do silêncio-de-si. 


Palavras-chave


Silêncio fundante. Silêncio de si. Autogoverno.

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Referências


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DOI: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-21568

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