Graus de integração entre os verbos da perífrase V1 (E) V2 em uma perspectiva de interface variação-gramaticalização

Maria Alice Tavares

Resumo


Neste texto, à luz de uma perspectiva de interface variação-gramaticalização, abordo o uso dos verbos IR e PEGAR na perífrase V1 (E) V2, em que V2 é o verbo principal e IR e PEGAR são os verbos gramaticais auxiliares cuja função é indicar aspecto global. Quanto mais integrado estiver o verbo auxiliar ao verbo principal, mais avançado estará o processo de gramaticalização do verbo auxiliar. Com o objetivo de mensurar o grau de integração entre PEGAR e IR a V2 em diferentes comunidades de fala, analisei três fatores: presença da conjunção E entre V1 e V2, presença de pausa entre V1 e V2 e presença de material interveniente entre V1 e V2. Utilizei dados extraídos dos corpora Discurso & Gramática de Natal (RN) e do Rio de Janeiro (RJ), e do corpus do Banco de Dados VARSUL de Florianópolis (SC). Os resultados, obtidos através de análise quantitativa, mostram que: (i) em Natal, o comportamento de IR e de PEGAR é similar; (ii) no Rio de Janeiro, IR é mais frequente em perífrases sem a conjunção E e sem pausa, o que indica um maior grau de integração a V2; (iii) em Florianópolis, é PEGAR que manifesta um maior grau de integração a V2. Essas diferenças revelam um maior avanço do processo de gramaticalização de IR no Rio de Janeiro e de PEGAR em Florianópolis. Em Natal, a gramaticalização de ambos os verbos parece estar no mesmo estágio. 


Palavras-chave


Variação. Gramaticalização. Perífrase V1 (E) V2.

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DOI: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-21166

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